quinta-feira, 24 de abril de 2008

RÓTULOS

Qualquer literatura barata diz a mesma coisa: não rotule a criança. Chame a atenção dela para aquele momento. Você está sendo manhosa, e não: você é manhosa. Você está fazendo birra, e não: você é birrenta. Uma vez rotulados levamos com a gente esta carapuça pela vida toda. Um ou outro se salva fazendo análise ou virando budista, mas não é fácil.
Hoje com as crianças tenho uma vontade e uma urgência de me corrigir. Nunca tive ordem, nem nexo, nem método. Sempre fui fazendo as coisas preocupada com o essencial, mas sei que quando cuida-se dos detalhes o todo ganha.
Sou bagunceira. Sou distraída. Sou gastadeira. Sou tranquila. Ouço isso sobre mim desde que me conheço por gente. Posso ver a cena do papel sulfite colado no meu armário (bem do lado de um coração onde estava escrito Ana Paula e Leandro) com o seguinte texto: Abriu? Feche. Usou? Guarde. Começou? Termine. Pegou emprestado? Devolva. Minha mãe colou o tal papel e repetia sempre que eu não levava jeito para algumas coisas.
Eu acreditei. Do mesmo jeito que levei a sério o que diziam sobre: a Ana Paula adora criança, a Ana Paula sabe escrever, a Ana Paula gosta de ler, a Ana Paula não gosta de perder, etc. Comprei todos os rótulos. Os bons e os ruins.
E, por Deus, quero tanto que as meninas descubram-se e saibam se ver de dentro pra fora!

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