domingo, 20 de fevereiro de 2011

"O grande homem é aquele que, no meio da multidão, mantém com perfeita doçura a independência da solidão."

Um comentário:

  1. Por causa de nossa divisão mental e histórica a respeito do que seja multidão e solidão ou, como é mais comum se dizer, entre público e privado, costumamos colocar em oposição e em guerra essas duas realidades. Isso está fortemente presente até no estilo de personalidade que alguns adotam ao longo da vida. Há aqueles que preferem o público e o entendem enquanto estar sempre em meio às pessoas, na agitação, no social. E para isso desenvolvem uma personalidade mais desinibida, mais social e sociável. Ao mesmo tempo, entendem que a solidão é um mal do qual devem sempre cortar caminho ou evitar. Em contrapartida, entendem que a solidão gera solitários e pessoas introvertidas, anti-sociais, intimistas e subjetivas. Para quem tem essa mente, quando são colocados forçadamente em situações de solidão, a vida se apresenta para eles como um verdadeiro fantasma, um dilema e uma tortura. Se sentem doentes, tensos, desesperados e um peixe fora d’água. Já os que prezam a solidão em oposição a público e social, temem qualquer contato que os tire de sua tranqüilidade solitária. O Social, o público, o agito, o barulho, o encontro, a festa e outras situações que tenham cunho de multidão e de rumor, constitui uma ameaça a ser evitada a qualquer preço. Para esses o tumulto, a presença de outros é sempre um incômodo. No entanto, o Homem grande é o que sabe que esse negócio de público e privado é uma divisão criada por quem rompeu com sua interioridade e com a visão mais profunda da vida no que toca às relações. O homem verdadeiramente solitário é aquele que sabe estar só entre a multidão e ser profundamente comunitário com ela. E o Homem público é o que aprendeu de sua existência solitária. No caso de estar só entre a multidão é saber-se único e jamais deixar-se massificar. É ser autônomo no modo de ser, sentir, pensar e agir. É saber que em meio aos demais não se é apenas mais um, mas se é um com os demais sem confundir-se com nenhum deles. Quem é assim entende-se como parte no sentido de participante e nunca como pedaço ou somatória de um todo. Há homens solitários que trabalham tão bem sua solidão na solidão, no sentido de saber estar a sós consigo mesmo, que é o mais social e sociável dos homens com sua presença, idéias e contribuição. E existe pessoa que aprecia tanto a multidão, que está sempre bem no meio dela e que é uma grande referência para ela, só porque sabe estar a sós consigo mesmo no sentido de entender-se como único e como aquele que jamais se divide ou divide os demais. E será que procurar não dividir-se não é isso o que se entende por individuo ou a tarefa da individuação? Nesse sentido, pode ser que ao se procurar viver indiviso consigo mesmo seja a melhor forma de evitar quebrar a unidade com os outros indivíduos e o com o que se entende por social e públcio. O que se chama muitas vezes de público, social, comunitário tem na sua origem esse cultivo da própria individualidade e o respeito e amor pela individualidade do outro. Quando se faz isso o indivíduo se torna o mais comunitário e social dos Homens. Se torna, com outras palavras, verdadeiro homem e mulher público.

    ResponderExcluir