QUASE UMA PRECE

Hoje é dia das crianças.
Dia de Nossa Senhora.
Quis emoldurar o dia com ares especialíssimos, o dia de celebrar o tempo bom, o tempo da infância.
No fim da noite Manu dormiu no meu colo vendo O Rei Leão. Lolô chorou muito com a morte do pai do Simba e precisou de companhia. Lamentamos no escuro que ele tenha caído do penhasco. Por que o tio do Simba é tão malvado mamãe? O que é inveja? E ganância?
Comentei: eu percebi que o tio dele não era um cara legal logo no começo, quando ele pediu ao Simba que não contasse ao pai que o levaria para um passeio. Onde já se viu? Pais e fihos tem uma ligação assim ó: fiz com a mão uma bolinha. Protegida, encantada. OS filhos podem contar com os pais. E os pais têm que tentar tirar o que está pesado no coração do filho, ajudar a resolver os medos e as dúvidas e deixar o coração da criança livre para brincar e sonhar.
Ela ficou quieta.
Depois falou:
Um dia mamãe, a Ione disse pra mim: se você contar pra sua mãe que eu não quero ler história, não falo mais com você. Eu peguei o telefone e te liguei, lembra? E você tava jantando? E aí ela ficou brava e chorou e eu disse: Ione, você é adulta, eu que sou criança não tô chorando, mas aí comecei a chorar muito. Vou ficar aqui no sofá sozinha, esperando a mamãe. E fiquei até dormir. Nem quis mais ouvir a história da Rosa Azul.
Tive vontade de chorar naquele momento. Me imaginei no restaurante enquanto ela ficava aqui, deitada no sofá muito cheia de certeza.
Disse: isso filha. Você é corajosa e teve razão de ficar zangada.
Senti culpa.
Hoje rezei para Nossa Senhora agradecendo que somos cúmplices. Pedi que meu coração de mãe viva sempre atento, atento, atento. Mais atento do que naquele jantar, mais atento a cada dia.
As crianças falam tudo.
É só ouvir.