quarta-feira, 22 de maio de 2013

CANTO

Me lembro bem pequenininha olhando a enceradeira bailar na sala, panela de pressão no fogo, o sol esquentando a casa quando entrou pela porta um senhor de bata, barbas brancas, famoso na cidade. Era Frei Paulino que muito de vez em quando aparecia para benzer as famílias e seus lares e que, para mim, tinha status de papa, de enviado de deus, um superstar religioso, uma loucura. Me lembro dele passar por mim e dizer: essa menininha adora música. Faz bem mais de trinta anos que isso assucedeu e eu nunca me esqueci. Mas confesso que entrava ano, saia ano e eu ficava aflita pois adorar música não deveria ser algo maior do que simplesmente ouvir música? não toco um instrumento, não estudo, não nada e agora, Frei Paulino? Teria você dito uma frase banal sem importância nenhuma no meu destino? Pois eis que conheci Marcia Regina,que veio a ser minha professora de canto. Toda terça é sagrado: ela me recebe na sala de piano. BRRRRR, DRRRRRRRR, PRRRRRRR. Na aula de canto eu canto enquanto ela toca o piano. O mundo lá fora desliga como mágica. Eu sorrio, me dedico, me divirto, me ouço, me conheço. Cedo ou tarde o que é para ser seu vem e te serve como uma luva. Esta frase dita ao vento pelo Frei Paulino é meu número hoje em dia.

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