quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O INÍCIO E O FIM

Minha casa está impreganada de vida pela frente. O leite escorrendo do peito, a Manu vindo a ser e a Lolô na mais tenra infância.
Enquanto isso os amigos dos meus pais, com os quais convivi desde que me lembro por gente estão indo embora ou adoecendo.
Este ciclo da vida me dá uma espécie de vertigem.
O Salim, eu soube, comemorou suas bodas de ouro com uma grande festa e arrancou lágrimas quando entrou no salão e dançou conduzindo Alzira em sua cadeira de rodas, imóvel. Tia Beatriz se foi. Tio Jango deixou a casa da tia Wilma faltando um pedaço. Minha mãe sempre liga contando: Rita Silva morreu. Tia Tereza está doente.
O Rodrigo escreveu em sua crônica que o tempo quer a nossa morte. A idade vai chegando e a idéia de terminar agonia qualquer ser humano.
Mas ontem, lendo o que o Drauzio Varela descreve em seu livro "O médico doente" me tranquilizei. Doente, à beira da morte ele experimentou a perspectiva de morrer. E disse: "a perspectiva de morte nos apavora bem mais do que a iminência dela. Na hora, deseja-se apenas ficar quieto. A pessoa abdica de lutar, não reinvindica nada, nem se desespera. Pessoas queridíssimas perdem seu significado afetivo. Os laços emocionais se desfazem. Aquilo que os liga desaparece e têm-se a impressão que ambos não habitam mais o mesmo mundo."
Nascer e morrer. Está tudo certo.

4 comentários:

  1. hj ao te ver não senti nada...
    nao sei se fico feliz ou triste com isso... mas acho que acabou mesmo, e a culpa nao foi minha!

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  2. Ana, mas é assim mesmo. Parece que Deus vai convencendo a gente com a nova "vida" a se seguir.

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  3. Minha mãe também sempre liga contando quem morreu e quem está doente, da geração dela e, mais recentemente, da minha também. O que agonia mesmo é emaranhar-se em muitas possibilidades do que fazer com os anos à frente, que podem existir ou não.Ter coisas para fazer é uma fantasia de que se vai viver o suficiente para fazê-las, isto é, para sempre.Oscilo entre fazer muitas coisas e desistir de todas.Estou no primeiro ano do nono setênio de vida e num momento de escolhas que me intimidam.Tal como a clareza de estar mais perto do fim.
    O.

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