sexta-feira, 26 de setembro de 2008

SOLIDÃO

Tenho medo de alimentar demais o bicho.
Horas, dias, meses, já faz um ano que ele vive vida tão ordinária. Água suja, água limpa. Comida. Ele come, defeca, come, não dorme, como se contenta? Qualquer coisa ele morre.
Fico tão atarantada com seu silêncio. Nada acontece no seu aquário. Não há nem cantos que é para se ter alguma ilusão de ótica. Ninguém da sua espécie aqui.
Se lembro do peixe vou tratando logo de mudar de coisa, ele me agonia... um mar pela frente e ele tão só aqui.
Tenho medo que ele morra, é tão vivo o bicho.
Ele existe em forma de nó na minha garganta. É pra ser bonitinho, mas fico toda confusa na presença dele. É silencioso mas é ser vivo e habita a minha cozinha e me lembra que na existência nasce-se e morre-se e entre um e outro vai-se vivendo correndo o risco de dar voltas no aquário redondo de água turva.
E porque a água é turva e dá-se voltas fico com coisa com o peixe.

Lá em casa todo mundo acha o peixe espertinho e feliz. Ele é laranja e ninguém lembra que ele não é eterno.

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