A MENINA E O PÁSSARO ENCANTADO

Como toda noite fui contar uma história para as meninas. Hoje uma de Rubem Alves.
Foi bem nessa parte...

"A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
"- Tenho que ir", ele dizia.
"- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....".
"- Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "-- Eu também vou chorar.
...
Mas tenho que ir. Senão deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
...
"- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz".
...
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
...
"- Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...".
Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
...
Até que não mais agüentou.
Abriu a porta da gaiola:
_ Pode ir pássaro!

Nessa hora a Manu se pôs a chorar.
-Muito triste, muito triste! Ela tampava os ouvidos e soluçava. -Pára, pára mamãe. Agora e menina vai ficar velhinha.
É, no livro, de tanto esperar o pássaro voltar a menina ficou velhinha.
-Temos medo de ficar velhinhas, mamãe. Disse a Lolô, já habituada à história.

Foi uma longa conversa envolvendo Peter Pan, Bisa Maria, os avós, professor Hermógenes e toda a minha inspiração para falar sobre a beleza de envelhecer por fora, mas nunca por dentro.
E foi contando até noventa que elas conseguiram pegar no sono.