segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O MENINO QUE GANHOU UM RIO

Ontem as meninas se deitaram exaustas.
Foi um dia cheio pois salvaram a vida de um passarinho que estava morrendo afogado na água gelada, depois receberam o primo Pedro que veio morar com a gente.
Fiquei pensando em alguma história que as levasse longe, mas que não tivesse emoções demais porque já era tarde para isso.
Achei um Manoel de Barros. Minhas meninas adormeceram sonhando com um rio, uma árvore e dois irmãozinhos.
Conte para os seus.
É lindo.

"Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse minha mãe compraria
rapadura ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário de meu irmão ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera ao meu irmão e achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens do meu rio
e de noite eles iriam dormir na árvore do meu irmão.
Meu irmão me provocava assim:
a minha árvore deu lindas flores em Setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre os pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!"

Texto extraido do livro Memórias inventadas de Manoel de Barros.

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