quinta-feira, 7 de abril de 2011


AS MENINAS E A BORBOLETA

Encontraram um casulo uma vez.
Ele ficava pendurado em um fino galho de árvore acoplado a uma garrafa PET ocupando a mesa da sala por dias e dias. Olhava-se pela garrava e o mesmo cinza se repetia. Nenhum ser alado aparecia triunfante, delicado e lindo. Sempre a massa escura e feia, quase sem esperança de ter beleza um dia. Lolô desistiu do tal casulo, cansou de exercitar sua cabecinha com lagartas e borboletas.
Mas, como criança renova esperança com facilidade, tempos depois veio outro casulo. Quem trouxe foi a Oli. Feio e cinza como o anterior. Dessa vez Oli o colocou dentro de uma caixa especial, que tinha até uma lupa na tampa.
Eis que acontece o milagre.
Quase como por uma graça ocorreu das crianças assistirem a grande transformação: bem ne frente dos seus olhos uma linda borboleta se libertou do seu pesado casco e voou graciosa naquele pequeno espaço.
Elas viveram o espanto em sua plenitude.
Gritaram, contemplaram e, claro, desejaram possuir a borboleta.
Olhavam, olhavam.
Contavam para todos, falavam entre elas, filosofavam.
A borboleta passou a noite com suas donas, dentro da caixinha, no quarto de dormir.
De madrugada fui ver se ela ainda estava viva. Desejei muito que a borboleta vivesse até que as crianças acordassem e a soltassem no céu.
Seria trágico que elas abrissem os olhos e a encontrassem morta, já que uma borboleta dura em média 24 horas.
Seria trágico se toda aquela aventura de vida começasse e morresse ali mesmo, denunciando a fulgacidade da nossa vida, iclusive.
Deu tempo delas acordarem e respirarem aliviadas porque ela, a borboleta, existia mesmo, era amarela, linda, misteriosa e delas para sempre. Deu tempo da tampa da caixa abrir, a borboleta partir e elas perceberem que nossas coisas voam para longe da gente.
E o contar do tempo, assim como o destino da borboleta continuou abstrato e sem contornos naquelas cabecinhas.

Um comentário:

  1. Ah, que bom que deu tempo... que linda experiência fica pras meninas, sem fala, sem intervenção adulta, sem nossas arquiteturas educativas, tão frágeis... Viva a borboleta que voou pra bem longe, e trouxe pra tão perto sabedoria eterna pra três coraçõezinhos amados.

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