A vida lá em casa anda assim: Lolô teve sua primeira prisão de ventre. Contraiu os esfincteres na quarta,era sábado e ela não soltava. Ficou enfezada, brava, que problema esse que foi acontecer comigo mamãe.
Cinco dias depois acordei decidida a ajudar Lolô e acabei descobrindo que ela estava vivendo seu primeiro dilema e eu pouco tinha a fazer. Um problemão que não se resolve se ela não agir. Mas ela paralisou. Não consigo mamãe, por favor me dá uma chance. Chance? Não, não é sobre dar chance filha. Por favor mamãe, eu não quero, eu não vou sentar nesse vaso nunca. Pode ser depois? Posso dormir antes porque tou com muito sono? Não, não pode. Isso se chama adiar. Adiar não é resolver, é prolongar seu sofrimento. Vai filha, coragem. E lá se foi um supositório, algumas ameixas, uma xícara de granola, muitas horas da gente tentando convence-la enquanto assistia a todo o poder de articular um pensamento aos seis anos de idade. Cada pessoa tem um corpo mamãe, o meu não é igual ao seu, eu não tenho vontade de fazer cocô porque não tem um cocô para ser feito. Isso se chama fugir e não querer aceitar que você tem uma questão para resolver, filha. Eu estava mentindo mamãe, a minha barriga não dói e eu acho que eu fui no banheiro mas não te falei. Isso se chama querer acreditar no que não é verdade, filha. Você quer que as pessoas achem que eu sou louca, por ficar sentada na privada sem vontade, quer? As pessoas não têm nada a ver com isso, filha.
Não é uma questão de querer ou não querer. Não é uma questão de gostar ou não gostar. É uma questão de precisar fazer.
Eu por exemplo, tenho uma reunião que já vai começar e meus esfincteres estão completamente contraídos.
Preciso ir.
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