TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO

Ai, tô tão cansada, tão cansada. Dois dias internada em uma sala de reunião. Acabou a fralda e o lenço umedecido. Legumes eu não sei se tem. Na hora do almoço não posso socorrer o pessoal de casa. Porque não haverá hora de almoço, mas também porque eu, a revelia, vou sair ao meio dia e meia para ir à análise. Passar tantas horas seguidas pensando em outra língua dá dor de cabeça. Ontem o Tin ficou chateado porque cheguei às dez e meia, mas depois vimos juntos mister David Lynch no Roda Viva e sua meditação trancedental fez bem. Manu faz dez meses amanhã. Preciso ir.
...
Fui.
...

Voltei. Come-se aqui dentro da sala de reunião sanduíches não sei do quê. Um e-mail chega pedindo uma reunião depois dessa reunião. Manu está falando tetê, que é mamadeira. Uma hora dessas elas estão tomando banho. Primeiro uma depois a outra. Agora bate um sol na sala de casa e é bom olhar a cidade. Reunião para discutir o quê depois de quarenta horas reunidos? As pessoas vão perdendo a graça, sentam-se na cadeira desengonçadas. Se mexem tanto. Pegam café, bolachinhas, água. Nada satisfaz. Imagina que quatro deles saem daqui rumo ao aeroporto, pegam um avião e viajam a noite toda. Será que eles têm família? Mulher, filhos? Ninguém foi feito para ficar tanto tempo fechado numa sala. A gente precisa de espaço. A Manu está engatinhando, tão bonitinha. Acabei de receber uma foto das duas, o Tin mandou. É de suma importância o que está sendo dito aqui. O mais longe que alcancei na minha carreira. Mas meu maior projeto será para sempre minhas filhas. Um é ofício, outro é amor.